Perderíamos o norte, se não houvesse quem nos guiasse. Romeiros errantes seríamos, sem bússola e sem itinerário, sem sextante e sem farol, não fossem os mapas desenhados por quem percorreu o mesmo caminho antes de nós.
Os nossos antepassados não vivem só nas gavetas e nas molduras, em rendas antigas ou em pergaminhos descoloridos. Para o bem e para o mal eles permanecem em nós, gravados no nosso código genético desde tempos imemoriais, a preencher os nossos espaços vazios, como água num copo de areia. E se a amálgama dos grãos de que somos formados constitui a nossa exterioridade, como paredes, janelas e telhados da nossa casa, é no passado que em nós persiste que encontramos as fundações da nossa casa interior.
A vida das pessoas tem sempre subjacente uma reunião imponderável de factores, imprevistos, acasos, contingências várias que encaminharam os acontecimentos numa determinada direcção e não noutra, e moldaram aquele novo ser que abraça a vida pela primeira vez. Um nascimento é sem dúvida um acontecimento prodigioso e mágico, por ser consequência de tantos movimentos contraditórios e tantas contingências aleatórias, vontades e negações, avanços e arrecuas da natureza. Uma vida tem milhões de tonalidades originados por milhões de casualidades. Por si só, nascer é já um milagre, pelo que projecta no futuro, com todas as hipóteses em aberto e todas as portas escancaradas. E crescer é ir fazendo as nossas escolhas abrindo umas portas, fechando outras.
Mas em qualquer nascimento, por mais complexas e sinuosas que sejam as causas inerentes a essa existência, existe uma única manifestação isenta de imprevisibilidade, que é esta: o passado é uma evidência que não se extingue, é imutável e inegável.
Quem somos, estará sempre ligado ao que outros foram antes de nós.
Tão longa introdução vem a propósito do lema que figura na placa existente na entrada do Centro de Artes e Ofícios Roque Gameiro, em Minde: HONRA TEUS AVÓS. Este lema era também a divisa de Alfredo Roque Gameiro, nosso patrono.
A frase “Honra teus avós” serve então de ponto de partida para a pequena viagem de apresentação que vos propomos: sem outro mapa que não as linhas da nossa vontade apontada ao futuro, e as rotas da nossa memória. Vinde, pois, até Minde!
O Centro de Artes e Ofícios Roque Gameiro escolheu como patrono o mestre aguarelista Alfredo Roque Gameiro, estreitando uma ligação umbilical desde sempre presente, entre o ilustre filho de Minde e todos os habitantes desta terra. Entendeu naquela altura um grupo de mindericos que o nome e os feitos dos nossos avós são a matéria-prima a partir da qual se haveria de construir um futuro bem alicerçado, e meteram mãos à obra, idealizaram uma casa que albergasse o espólio material do nosso estimado antepassado, e o espólio imaterial existente que interessava preservar e dar a conhecer aos vindouros. Uma casa onde morassem os valores tradicionais e os da modernidade.
O Centro de Artes e Ofícios Roque Gameiro foi criado em 1986, na sequência do encerramento do Museu Roque Gameiro, que funcionava na velha casa de seus pais, sem as condições adequadas à nobreza das obras aí expostas. Trata-se de uma Instituição de Utilidade Pública, sediada em Minde, e que desenvolve actividades de cariz cultural assentes na preservação, caracterização e promoção dos valores da sociedade em que se insere, procurando aliar a tradição e a memória aos valores da contemporaneidade. As várias áreas desta instituição estão organizadas em três vertentes:
A divulgação das Artes é uma das traves-mestras sobre a qual assenta um dos principais interesses e a grande aposta no futuro que o Centro de Artes e Ofícios preconiza, porque entendemos que através da Arte é possível formar jovens humanamente melhor preparados, mais cultos, mais íntegros, mais sensíveis aos outros e à natureza, mais felizes. Nesta área procuramos fomentar o ensino artístico, nos seus diversos ramos. Existem em funcionamento:
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O Museu da Aguarela, com a divulgação da obra do Mestre;
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O Conservatório de Música Jaime Chavinha, com ensino oficial em todos os ciclos do ensino básico;
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O Atelier de Dança, clássica e contemporânea, que dá formação a crianças, jovens e adultos;
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O Atelier de Desenho e Pintura, com exposições temporárias e cursos de pintura, procurando cativar para esta área novos artistas e dando a conhecer os trabalhos de outros;
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O Atelier de Restauro, com especial enfoque no restauro de papel;
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O Atelier de Tecelagem das mantas de lã, com 3 teares manuais em funcionamento;
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O Charales Chorus (Coro Polifónico), verdadeiro emblema da nossa colectividade, pela visibilidade que proporciona e pela qualidade e encanto das vozes que nos representam por todo o país;
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A Piação do Xarales do Ninhou, com o revigoramento do Minderico.
A intervenção do CAORG procura atingir os objectivos que levam ao desenvolvimento do património humano e social ao qual se dirige, e ao desenvolvimento do território onde está inserido. Assume formas e meios bastante diversos, representando várias vertentes de intervenção. É nesta abrangência que procuramos identificar o carácter colectivo das nossas actividades, procurando que tenham um interesse alargado a uma camada vasta da população, trazendo a Arte à população e arredores, não incentivando elitismos, e ao mesmo tempo realçando a individualidade de cada interveniente e incentivando o bem comum, numa corrida desenfreada contra o esquecimento e a apatia. Com um pé no passado, mas o outro sempre mais adiante.
O Conselho Diretor
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